O termo leucemia (do grego leukos λευκός, "branco"; aima αίμα, "sangue") corresponde a um conjunto de neoplasias malignas (cancro/câncer) que atingem o sangue e possuem origem na medula óssea.
Em 2012, no Brasil, o INCA estima que houve cerca de 4.500 homens e 4.000 mulheres afetados. Em 2010 a leucemia causou cerca de 6000 vítimas.1 Ainda segundo o INCA, em 2008 ocorreram no mundo cerca de 351 mil casos novos e 257 mil óbitos por leucemia.2
Médula óssea de um paciente com leucemia mieloide aguda.
Podemos classificá-las em:
- Leucemias Agudas — aquelas de início e evolução rápidos
- Leucemias Crônicas — aquelas em que a instalação é insidiosa
Podemos, ainda, classificá-las segundo a linhagem celular comprometida:
- Leucemias Linfoides — comprometimento da linhagem linfoide
- Leucemias Mieloides — comprometimento da linhagem mieloide
A sua causa (etiologia) precisa é desconhecida. Sabe-se que, a depender do subtipo, estão envolvidas alterações gênicas e cromossômicas específicas.
Tem como característica a proliferação anormal de células na medula
óssea — onde origina-se o sangue — o que pode acabar por suprimir a
produção de células normais.
Classificação
A leucemia é o câncer mais comum em crianças, respondendo por 30% dos
casos. Desses casos, 85% das leucemias são da forma linfóide aguda
(LLA), 10% mielóide aguda (LMA) e 5% Mielóide Crônica (LMC).3
Clinicamente e patologicamente a leucemia é dividida em formas aguda e crônica.
- A leucemia aguda é caracterizada pelo crescimento rápido de células
imaturas do sangue. O tratamento deve ser imediato pela rápida
progressão e acumulo de células malignas que invadem a circulação
periférica e outros órgãos. Geralmente acomete em crianças, adultos e
jovens.
- A leucemia crônica é caracterizada pelo aumento de
células maduras mas anormais. Sua progressão pode demorar de meses a
anos. Geralmente acomete pessoas mais velhas.
Além disso, as doenças são classificadas entre linfoblásticas ou leucemias linfoides, que indicam que uma mudança cancerosa ocorreu em um tipo de célula da medula óssea que geralmente toma forma de linfócitos, ou mieloides ou leucemias mieloides, que indicam que uma mudança cancerosa ocorreu em um tipo de célula da medula óssea que normalmente toma forma de hemácias, alguns tipos de leucócitos e plaquetas. | Leucemia linfocítica
(ou "linfoblástica") | Leucemia linfocítica aguda (LLA) | Leucemia linfocítica crônica (LLC) |- | Leucemia mieloide
(ou "não-linfocítica") | Leucemia mieloide aguda (LMA) | Leucemia mieloide crônica (LMC) |}
Dentro destas categorias principais, existem diversas subcategorias.
Um dos tipos de leucemia classificado fora destas categorias inclui a leucemia de células pilosas.
Comparação dos tipos de leucemia
Tipo |
Ocorrência |
Taxa de sobrevivência em 5-anos |
Tratamento |
Leucemia linfocítica aguda |
Tipo mais comum de leucemia em crianças jovens. Este tipo também afeta adultos, especialmente com mais de 65 anos. |
85% em crianças e 50% em adultos4 |
Medula óssea e de controlo da doença sistêmica, a prevenção da propagação da doença, por exemplo, ao Sistema Nervoso Central |
Leucemia linfocítica crônica |
Mais frequentemente afeta adultos acima de 55 anos. Às vezes ocorre
em adultos jovens, mas quase nunca afeta crianças. ⅔ dos afetados são
homens. |
75%5 |
Incurável |
Leucemia mieloide aguda |
Ocorre mais comumente em adultos do que em crianças, sendo mais comuns em homens do que em mulheres. |
40% 6 |
Medula óssea e de controlo da doença sistêmica, a prevenção da propagação da doença, por exemplo, ao Sistema Nervoso Central |
Leucemia mieloide crônica |
Ocorre principalmente em adultos. Um número muito pequeno de crianças também desenvolve esta doença. |
90% |
Imatinib 7 8 |
Leucemia de células pilosas |
Cerca de 80% dos afetados são homens adultos. Não há caso relatados em crianças jovens. |
96% a 100% em dez anos9 |
Incurável, mas facilmente tratável |
Causas
Não existe uma causa única para todos os tipos de leucemias. Cada
tipo de leucemia possui sua própria causa. Suspeita-se de ser causada
por fatores diversos, dentre eles: herança genética, desencadeamento
após contaminação por certos tipos de vírus, radiação, poluição,
tratamento quimioterápico entre outros. Algumas vezes, pensa-se muito a
respeito da baixa imunidade (onde células podem destruir células
cancerígenas)ou alguma falha no sistema imunológico que fizesse com que
alguma célula anormal não fosse destruída e se reproduzisse, dando
início ao câncer. Não se pode determinar de forma exata como a leucemia
se desencadeia em um indivíduo específico, mas é possível verificar
através de seu próprio histórico a possível causa.
Sintomas
Sintomas comuns de leucemia
As manifestações clínicas da leucemia são secundárias à proliferação
excessiva de células imaturas (blásticas) na medula óssea, que infiltram
os tecidos do organismo, tais como: amígdalas, linfonodos (ínguas), pele, baço, rins, sistema nervoso central
(SNC) e outros. A proliferação rápida das células leucêmicas faz com
que estas vão ocupando cada vez mais a medula óssea, não deixando mais
as células normais (hemácias, leucócitos e plaquetas) se reproduzirem normalmente e saírem da medula óssea, causando sintomas diferentes a cada tipo da doença, tais como:
Ocasionalmente, também pode ocorrer:
Esses sintomas geralmente aparecem em "tríade", ou seja, pelo menos,
um sintoma de cada síndrome (anemia, plaquetopenia, leucopenia). Por
exemplo, uma pessoa pode apresentar sonolência, manchas roxas e febre.
Porém, existem casos raros em que a pessoa apresenta apenas uma anemia
normocítica de difícil tratamento.
Diagnóstico laboratorial
Alargamento do baço e fígado em paciente com leucemia.
- Hemograma:
ao fazer um exame de rotina, pode-se notar um hemograma anormal
sugestivo de leucemia com presença de células imaturas ou uma
proliferação excessiva de células aparentemente maduras. O hemograma não
serve para classificar a leucemia, mas geralmente é o primeiro exame a
ser notado alguma alteração. Também se verifica se há presença de anemia
e trombocitopenia.
- Mielograma:
É um exame de grande importância para o diagnóstico, através da análise
da morfologia das células e com o uso de provas citoquímicas. O
mielograma é usado também para a avaliação da resposta ao tratamento,
indicando se, morfologicamente, essas células leucêmicas foram
erradicadas da medula óssea (remissão completa medular). Esse exame é feito sob anestesia
local e consiste na aspiração da medula óssea seguida da confecção de
esfregaços em lâminas de vidro, para exame ao microscópio. Os locais
preferidos para a aspiração são a parte posterior do osso ilíaco (bacia) e o esterno (parte superior do peito). Durante o tratamento são feitos vários mielogramas.
- Punção lombar: A espinal medula é parte do sistema nervoso, que tem a forma de cordão, e por isso é chamada de cordão espinhal. A medula é forrada pelas meninges (três membranas). Entre as meninges circula um líquido claro denominado líquor. A punção lombar consiste na aspiração do líquor para exame citológico e também para injeção de quimioterapia com a finalidade de impedir o aparecimento (profilaxia) de células leucêmicas no SNC ou para destruí-las quando existir doença (meningite leucêmica) nesse local. É feita na maioria das vezes com anestesia local e poucas vezes com anestesia geral. Nesse último caso, é indicado em crianças que não cooperam com o exame.
- Citometria de fluxo:
Pesquisa alguns marcadores de superfície das células imaturas. No caso
de uma leucemia linfóide aguda é possível saber se a proliferação é de
linfócito T ou B.
História
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A leucemia foi observada pela primeira vez pelo patologista Rudolf Virchow
em 1845. Observando um número anormalmente elevado de glóbulos brancos
em uma amostra de sangue de um paciente, chamado a condição Leukämie em alemão Patlak. Targeting Leukemia: From Bench to Bedside. Breakthroughs in Bioscience. Página visitada em 20 May 2010.
Epidemiologia
Em 2008 foram estimados cerca de 351 mil casos novos e 257 mil óbitos
por leucemia no mundo. No Brasil são estimados 5 novos casos a cada 100
mil homens e 4 a cada 100 mil mulheres. Por causa da diferença no
acesso ao tratamento sobrevida após 5 anos é de 43% na Europa Ocidental,
mas apenas 24% na América do Sul. Em crianças com acesso a hospitais
modernos a sobrevida relativa em 5 anos alcança 80%.2
Tratamento
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Geralmente duas semanas de quimioterapia já são suficientes para eliminar todas as células doentes do sangue.10
Como geralmente não se conhece a causa da leucemia, o tratamento tem o
objetivo de destruir as células leucémicas, para que a medula óssea
volte a produzir células normais. O grande progresso para obter cura
total da leucemia foi conseguido com a associação de medicamentos (poliquimoterapia), controle das complicações infecciosas e hemorrágicas e prevenção ou combate da doença no sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal). Para alguns casos, é indicado o transplante de medula óssea.
- O tratamento é feito em várias fases.
- A primeira tem a finalidade de atingir a remissão completa, ou seja, um estado de aparente normalidade que se obtém após a poliquimioterapia.
Os quimioterápicos mais utilizados são a citarabina (100–200 mg/m² por 7
dias) e a daunorrubicina (30–60 mg/m² por 3 dias). Este esquema é
conhecido como 7+3. Esse resultado é conseguido entre um e dois meses
após o início do tratamento (fase de indução de remissão), quando os
exames não mais evidenciam células leucêmicas. Isso ocorre quando os
exames de sangue e da medula óssea (remissão morfológica) e o exame
físico (remissão clínica) não demonstram mais anormalidades.
Entretanto, as pesquisas comprovam que ainda restam no organismo
muitas células leucêmicas (doença residual), o que obriga a continuação
do tratamento para não haver recaída da doença. Nas etapas seguintes, o
tratamento varia de acordo com o tipo de leucemia (linfóide ou
mielóide), podendo durar mais de dois anos nas linfóides e menos de um
ano nas mielóides.
São três fases:
Hoje já é possível a coleta de células-tronco
hematopéticas do sangue ou da medula. Infelizmente cerca de 60% dos
pacientes não encontram doador na família e precisam buscar um doador
compatível voluntário cadastrado no registro brasileiro de doadores de
medula óssea (REDOME).11
- consolidação (tratamento intensivo com substâncias não empregadas anteriormente);
- reindução (repetição dos medicamentos usados na fase de indução da remissão) e
- manutenção (o tratamento é mais brando e contínuo por vários meses).
Por ser uma poliquimioterapia agressiva, pode ser necessária o
internamento do paciente nos casos de infecção decorrente da queda dos
glóbulos brancos normais pelo próprio tratamento.
Principais procedimentos médicos no tratamento da leucemia
- Cateter Venoso Central: Como o tratamento da leucemia aguda
pode alcançar até três anos de duração e requer repetidas transfusões e
internações, recomenda-se a implantação de um cateter de longa permanência em uma veia
profunda, para facilitar a aplicação de medicamentos e derivados
sanguíneos além das frequentes coletas de sangue para exames, evitando
com isso punções venosas repetidas e dolorosas.
- Transfusões: Durante o tratamento, principalmente na fase inicial, os pacientes recebem, quase diariamente, transfusões de hemáceas e de plaquetas, enquanto a medula óssea não recuperar a hematopoese (produção e maturação das células do sangue) normal.
Referências
O Commons possui uma categoria com multimídias sobre Leucemia
- Ir para cima ↑ http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/leucemia/definicao
- ↑ Ir para: a b http://www1.inca.gov.br/estimativa/2012/index.asp?ID=5
- Ir para cima ↑ http://www.abrale.org.br/det_cancer_infantil/leucemia/index.php
- Ir para cima ↑ Harrison's Principles of Internal Medicine, 16th Edition, Chapter 97. Malignancies of Lymphoid Cells. Clinical Features, Treatment, and Prognosis of Specific Lymphoid Malignancies.
- Ir para cima ↑ Finding Cancer Statistics » Cancer Stat Fact Sheets »Chronic Lymphocytic Leukemia National Cancer Institute
- Ir para cima ↑ Colvin GA, Elfenbein GJ. (2003). "The latest treatment advances for acute myelogenous leukemia". Med Health R I 86 (8): 243–6. PMID 14582219.
- Ir para cima ↑ Patients with Chronic Myelogenous Leukemia Continue to Do Well on Imatinib at 5-Year Follow-Up Medscape Medical News 2006
- Ir para cima ↑ Updated Results of Tyrosine Kinase Inhibitors in CML ASCO 2006 Conference Summaries
- Ir para cima ↑ Else M, Ruchlemer R, Osuji N, et al. (2005). "Long remissions in hairy cell leukemia with purine analogs: a report of 219 patients with a median follow-up of 12.5 years". Cancer 104 (11): 2442–8. DOI:10.1002/cncr.21447. PMID 16245328.
- Ir para cima ↑ http://drauziovarella.com.br/doencas-e-sintomas/leucemia-2/
- Ir para cima ↑ http://www.ameo.org.br/index.php/conhecimento/44-a-compatibilidade-hla
[Esconder]
Patologia: Tumores, neoplasia e oncologia (C00-D48, 140-239) |
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